Évora, 2009
a UTOPIA AZUL Surgiu de uma necessidade, intrínseca ao Homem, de procura pela evolução humana.
Um projeto de manifestação da cor azul, como suporte cromático dos conceitos abstractos. Símbolo de quebra de fronteiras e reforço dos elos constituintes da cadeia “Humanidade”.
Tem como ponto de partida a Cor Azul, o “efeito estranho, quase
indizível” que o Azul tem sobre o nosso olhar, fazendo-nos
sentir “atraídos por ela”, pois é energia “feita cor” que nos “estimula e acalma simultaneamente” (Johann Wolfgang von Goethe – 1810).
Mentora: Artista plástica Mathilde Amberger Projeto: Historiador de arte Paulo Simões Rodrigues
José Luís Ferreira Sociólogo, ensaísta, investigador de arte, crítico da arte
A palavra Azul provirá do persa lazward (a cor do lápis-lazúli) preciosa rocha cristalina, uma das primeiras fontes do pigmento azul, oriundo de antiquíssimas jazidas do actual Paquistão…
Além de ter-lhe dado nome, a sua invulgaridade valorizou a cor Azul, ao ponto de, na antiguidade, lhe restringir a eleição do uso à coloração dos mais nobres e ricos motivos pictóricos. Tal acontecia na coloração do manto da Virgem Maria, «recebia a honra do azul profundo» (retido do ‘azur’ do céu mediterrânico)…
Só a partir da Renascença, Ticiano Vecellio (séc. XVI) e outros seguidores dessacralizaram essa exclusividade do azul, de uma forma menos ritual, mais ampla e libertadora, possibilitando o alargamento à fluência pictórica do espaço paisagístico, o céu e o mar, ou a luz interior, em Vermeer de Delft (séc. XVII).
Desde a antiguidade, no que regista a investigação histórica oriental mediterrânica (Egípcia, Mesopotâmica, ou Greco Latina), extremo-oriental (Indo-Arábica e Sino-Nipónica) e até na Antiguidade Ameríndia Ocidental (Maia, Azteca e outras) as culturas terão ansiado pela descoberta ou invenção de compostos inorgânicos capazes de tingir artefactos de azul.
O azul ambiental simbólico e de Utopia – a ilha atlântica imaginária de Thomaz More – contém a felicidade intemporal de um estado excelente da república: concentra em si o segredo da Paz da Humanidade. O Azul seria, nessa acepção, a íntima cor matricial do coração (enquanto alma). Espiritual, sereno e belo.
Pelo menos uma vez, todos os anos, a eternidade azul subliminar, da luz do sol, inundaria, suave, fresca e doce, a atmosfera da única paz respirável, como exclusivo cósmico, no multimilenar percurso da Nave dos Homens. Através do Tempo Universal. Reflectida pelo luar.
Em infinitas miríades tonais, de inúmeras matizes – que a tecnologia digital contemporânea decifra em >528 pantones – o Azul ilumina (com significância múltipla) tanto os sonhos infantis, como a sabedoria dos filósofos, a inefabilidade dos anjos e a magia das fadas, em íntima ligação estética e tecnocientífica com as Teorias da Cor, da Composição Cromática e da Psicodinâmica da Cor.
Além de marca icónica da caligrafia (no manuscrito escolar recente dos sécs. XIX e XX), o azul persiste como símbolo místico espiritual, astrológico e cabalístico da pureza e da lealdade, personifica a fidelidade e a subtileza, muitos o considerando como cor sinestésica da transcendência, significando mistério e potenciando divindade.
Desde os primórdios da pintura, as cores das tintas eram produzidas artesanalmente por solução ou mistura de terras e pós, extractos vegetais e animais, diluídos em solventes ou emulsões, com água, óleos, ceras, resinas e colóides.
Quando a minha mãe me deu as fitas azuis e brancas da sua formatura — tinha-se licenciado em Matemática —, pensei logo que as havia de utilizar num quadro.
O primeiro integrou-se na série “5×10”.
Posteriormente juntaram-se-lhe mais dois, executados para perfazer um tríptico para a exposição “Utopia Azul”.
Fitas azuis de uma verticalidade aprumada
arrumadas numa geometria implacável
reverberam freneticamente
numa imensidão de azuis rodopiantes.
Ah, a infinitude do azul!
Rosa do Rio