Rosa do Rio

Lisboa, 2009.

Projecto 5×10

— 5 telas de algodão de 40 x 80cm, de banda larga (3D), com os lados livres de pregos ou agrafes e todos eles trabalhados.
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— 10 telas de algodão de 40 x 40cm, de banda estreita, com os lados livres de pregos ou agrafes e todos eles trabalhados.
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— 1 tela adicional com dimensões diferentes das anteriores, de algodão, 20x20cm, de banda larga, com os lados livres e todos eles trabalhados. Esta tela terá a imagem do meu 1ª azulejo, imagem com a qual me identifico bastante e que foi evoluindo ao longo dos tempos.
Na maior parte das telas os lados fazem parte integrante dela, não devendo por isso ser escondidos. As telas não precisam nem, no meu entender, devem ser emolduradas. Este último aspecto representa uma vantagem em termos de custos.
O projeto tem também uma faceta literária que pode estar mais ou menos visível. Assim, existem 10 textos cada um com 5 parágrafos onde se fala da soma de saberes, experiências, vivências, impressões e sentires acumulados no domínio das artes plásticas e manuais.

Chegada aos 50 anos olho para trás…

O Número — Das explicações de Matemática, que dava nos meus tempos do liceu e universidade, e dos meus estudos de Economia, onde foi sempre dada uma grande atenção aos elementos quantitativos, ficaram-me as brincadeiras com os números e daí o elemento “5×10” várias vezes presente neste projecto.

A Palavra — Do meu gosto pela leitura e pela escrita e dos meus ofícios de correspondente e de intérprete ficou-me o gosto das palavras e de procurá-las … a busca das palavras certas para um dado contexto… como que um jogo de apanhada. Daí os textos que fazem parte deste projecto.

A Imagem, A Cor, A Textura, As Mãos – E sempre gostei de trabalhar com as mãos, as cores, as diferentes matérias, as texturas… E assim, fui trabalhando linhas, tecidos, lãs, fazendo roupas, cortes e colagens com feltros e estopas para quadros de crianças, pequenas tapeçarias… E mais para diante foram os lápis de cor, os guaches, os acrílicos, os diferentes papéis … Sentia um gosto por adquirir e experimentar lápis diversos, sépias, sanguíneas, carvões, pasteis, aguarelas, acrílicos, pigmentos vários e vê-los dispostos na sua multiplicidade de cores. E depois o barro onde desenhava, coloria e que mais tarde modelei, esculpi, pintei, desenhei e a que dei cor com pigmentos. Paralelamente um novo suporte para a pintura — O Azulejo. Sempre tinha gostado de Azulejos. Quando em Lisboa percorria as ruas dos bairros antigos não me cansava de estudar e admirar os diferentes estilos, cores e padrões. Por isso fiquei maravilhada quando comecei a pintar sobre eles.

Em Janeiro de 2000 nascem os meus 2 filhos, a Edna e o Alex e passados uns meses vim viver para Portugal.
Alguns anos de intervalo e depois o recomeçar. Sobretudo o desenho e pintura e a descoberta de um novo suporte — A Tela.
Quando na Primavera de 1987 fiz um “Work-Shop” com o pintor Freitas Cruz descobri umas tintas que me maravilharam. Para o trabalho final resolvi pegar nuns tecidos antigos – restos de fatos da minha avó – guardados durante anos numa arca, e aplicá-los na tela. Ao ver o resultado final senti vontade de fazer mais.
No Verão durante uma viagem comprei as tintas que me tinham maravilhado. As cores não foram escolhidas ao acaso mas pensando nos tecidos, fitas e botões guardados há anos à espera de utilização. Aos poucos ia-se formando e desenvolvendo a ideia deste projecto que não pode deixar de ser uma confluência de todo o caminho percorrido em diferentes áreas e diferentes continentes.
Assim, neste início da 2ª metade do meu percurso, este projecto que marca o que já fiz e o que ainda vou fazer.

“Os trabalhos apresentados são fruto de um processo laborioso e ponderado de resgate de um mundo e de um tempo passados, e que agora, longe de serem apenas uma revisitação ou pastiche, renascem com renovada vitalidade e maturidade espelhando de modo inequívoco a paixão, a seriedade e o empenho de Rosa do Rio perante a pintura.

São belos e delicados estes seus trabalhos, mas também, inquietantes. Seduzem-nos as cores, as texturas (também elas resgatadas ao passado), os ritmos e as histórias aí contadas. Inquietantes serão, porventura, as outras que também lá se acham ainda que por contar — as nossas próprias histórias enquanto espectadores. É deste dizer e não-dizer, deste encontro e desencontro que nos falam estes trabalhos. E não se leia a aparente ingenuidade de alguns registos como uma opção simplista para a resolução dos problemas encontrados ao longo do percurso, mas antes como a melhor — talvez única — forma de salvaguardar uma inocência e uma essência tão raras vezes presentes na pintura e nas nossas vidas.”

freitascruz
tutor/artista residente, Oficina do Desenho

“Quando na Primavera de 2007 fiz um workshop com o pintor freitascruz tive contacto com técnicas e tintas que me maravilharam. Para o trabalho final resolvi pegar numa blusa antiga da minha avó, há anos guardada, e aplicá-la na tela. O resultado – “ O corpete da minha avó “ — fez surgir o desejo de fazer mais trabalhos no mesmo género. Nesse Verão, durante uma viagem, comprei as tintas de que tanto tinha gostado. As cores não foram escolhidas ao acaso mas a pensar nos tecidos, fitas e botões guardados durante tanto tempo à espera de utilização. Perguntei então ao pintor freitascruz se poderia trabalhar com ele na execução destes trabalhos, o que ele aceitou.
Aproximavam-se os meus 50 anos e quis marcar o simbolismo deste meio século de vida com um conjunto de obras em que conjugaria os meios aprendidos com freitascruz com o universo desenvolvido desde tempos muito antigos e que tinha explorado bastante nas minhas pinturas sobre azulejo.
Surgia assim o projecto 5×10:
— 5 telas de 40×80 cm que se multiplicariam por 10 telas de 40x40cm.
Às telas viriam acrescentar-se 10 textos cada um com 5 parágrafos onde falo dos saberes, experiências, vivências, impressões e sentires acumulados no domínio das artes plásticas e manuais. Resolvi apresentá-los sob a forma de 10 tábuas que têm como fundo velhas tabelas de logaritmos e apontamentos de álgebra do meu avô.
Para além das telas e tábuas referidas são apresentadas 3 telas adicionas:
Uma de 20×20 cm com a imagem do meu primeiro azulejo para a qual olho um pouco como se fosse um auto-retrato e duas de 60x120cm que surgiram fruto da sugestão que me foi feita para apresentar também 1 ou 2 trabalhos de dimensões maiores.”

Textos das Tábuas